Ícone do Barroco Paulista a Igreja Matriz, construída no século XVIII, é um dos monumentos mais imponentes de nossa cidade e orgulho dos ituanos.
Agradecimentos: José Antonio Barros Freire
Blog dedicado a memória histórica da cidade de Itu/SP, suas paisagens, crônicas e personalidades que contribuíram para a construção da "Roma Brasileira".
24.5.12
Festa do Divino: religiosidade e transgressão social
Em 1323, tomada por grande fervor
religioso, D. Isabel, a rainha santa (1271-1336), casada com o rei de
Portugal, D. Diniz, decidiu celebrar a festa do Espírito Santo
coroando simbolicamente um imperador e dois reis. Após a cerimônia,
o “império do Divino” saiu às ruas ao som de trombetas e
acompanhado por uma multidão. Começava ali uma longa tradição de
celebrações religiosas que resiste até hoje.
No Brasil, as festividades do Divino
Espírito Santo praticamente desapareceram das grandes cidades. Há
alguns séculos, no entanto, eram realizadas nos maiores centros
urbanos coloniais e causavam tamanho envolvimento da população que
chegaram a preocupar as autoridades, como uma ameaça à ordem
pública.
Os primeiros registros dos festejos em
terras brasileiras são do século XVIII. Sob o título "Livro das
sortes que se tiraram na igreja Matriz da vila de Itu/SP para festejos
do Divino Espírito Santo (1765-1799)", estão relatadas, ano após
ano, todas as providências para o evento, como as contribuições em
dinheiro para missa, o sermão e a música, e doações de alimentos
(carne, trigo, farinha, arroz, azeite, ovos etc.).
Em 1765, por
exemplo, foram arrecadadas em Itu/SP, cerca de 150 quilos de carne.
O documento também lista os devotos escolhidos para compor os
personagens da festa. Havia o imperador, o capitão da guarda, o
pajem do estoque (provavelmente responsável pela guarda e
distribuição de alimentos), o alferes da bandeira, entre outros.
Um dos elementos que mais chamam a
atenção nas festas é a ocorrência do “tempo alegre”, prática
marcada pelas inversões simbólicas da ordem social, em que crianças
ou adultos eram coroados como imperadores do Divino. Antes disso,
havia a saída das folias, momento em que grupos de devotos
percorriam as ruas em busca de esmolas para a festa portando
bandeiras vermelhas com pombinhas bordadas em branco, símbolo do
Espírito Santo.
Os agentes da Coroa temiam que a
brincadeira virasse realidade, que a festa lúdica acabasse
inspirando revoltas efetivas. Era, portanto, preciso impedir o
envolvimento desta população com os rituais de alteração
simbólica da ordem e da hierarquia social, característicos daquelas
festividades.
Após a emancipação política
(1822), aumentou a tolerância das autoridades urbanas com os
festejos. Porém, em nome dos ideais de “progresso e civilização”,
os imperadores e suas pombas brancas do Divino tornaram-se figuras
raras nas grandes cidades.
Fonte: Revista de História
22.5.12
Colégio Regente Feijó, 80 anos
No último 16 de Maio, a escola
estadual Regente Feijó, comemorou seus 80 anos de existência e
história.
Criado em 1932, pelo então prefeito
da cidade, Dr. Joaquim Galvão da França Pacheco, o Ginásio
Estadual supriu uma antiga carência local, visto que não havia
ensino público secundário, ficando este a cargo dos dois únicos
colégios particulares de Itu/SP: o Colégio N. Sra. do Patrocínio
(feminino) e o Colégio S. Luiz (masculino).
A primeira turma, segundo os registros do próprio colégio, era composta por 53 alunos e contava com professores da envergadura de José Leite Pinheiro, Pery Guarany Blackman, entre outros. A direção, naquela época, ficava a cargo do Dr. Oscavo de Paula e Silva.
Além de estudantes da cidade de Itu/SP, o Ginásio também atendia alunos vindos de cidades vizinhas, tais como Salto/SP, Cabreúva/SP e Porto Feliz/SP.
Em 1944, já sob a direção do
professor Antônio Berreta, com o apoio do então Deputado Estadual
Dr. Novelli Júnior – que pleiteou a verba pública – o prédio,
onde atualmente funciona a escola, foi construído e inaugurado 5
anos depois, visando assumir um papel fundamental na história do
ensino público de Itu/SP e região.
Hoje, o passado do Colégio Estadual
Regente Feijó, encontra-se imortalizado na memória dos habitantes
da cidade e no próprio centro urbano de Itu/SP, onde, imponente, a
tradicional escola permanece.
Foto: Fachada lateral do Colégio Estadual Regente Feijó.
15.5.12
"A Lei e a Ordem" na vila de Itu/SP
Todas as leis e normas de condutas que
regem uma sociedade, são filhas de seu próprio tempo, ou seja,
buscam adequar-se às novas formas de organização social, aos novos
costumes e práticas, ou até mesmo, normatizar comportamentos
corriqueiros – e nem sempre adequados - dos cidadãos.
Dessa forma, justifica-se, em certa
medida, algumas leis sancionadas pelos legisladores da Câmara Municipal de
Itu/SP, ao longo do século XIX, visando coibir certas práticas
consideradas imorais e não dignas da convivência social.
É o caso da sessão de 10 de Julho de
1830, na então vila de Itu, onde se aprovaram, segundo o historiador
Francisco Nardy Filho, as seguintes posturas contra os insultantes:
Art. 2º – Todo aquele que injuriar
publicamente, com palavras insultantes a qualquer pessoa, terá a
pena de 4 dias de cadeia e multa de 3$000 (três mil réis);
Art. 3º – Quando o condenado
não tiver condições de pagar a
pena pecuniária estabelecida nesses artigos, o mesmo sofrerá um dia de prisão por cada mil réis.
não tiver condições de pagar a
pena pecuniária estabelecida nesses artigos, o mesmo sofrerá um dia de prisão por cada mil réis.
Contra a “feitiçaria” (como eram
chamadas as práticas religiosas dos africanos), considerada ofensiva
diante dos preceitos católicos, a sessão de 11 de Abril de 1855,
decretou a seguinte postura:
“O escravo que for encontrado
comerciando ou tendo em seu poder qualquer objeto vulgarmente chamado
de Feitiçaria, quer mineral, quer vegetal, quer animal, será punido
com 8 dias de prisão e pela reincidência, 30 dias.
Por sua vez, as pessoas livres
compreendidas no artigo acima, pela 1ª vez, será punido com 15 dias
de prisão e multa de 30$000 (trinta mil réis) e pela reincidência,
em 30 dias de prisão e 60$000 (sessenta mil réis!!) de multa.
A embriaguez também foi alvo dos
legisladores ituanos, que em sessão de 13 de Janeiro de 1862,
aprovaram uma postura que impunha 8 dias de cadeia e multa de 20$000,
a todo taverneiro que vendesse bebidas alcoólicas a ponto da pessoa
se embriagar, além da condução do bêbado à cadeia, para no dia
seguinte ser interrogada.
Fonte: NARDY FILHO, Francisco. “A
Cidade de Itu: crônicas históricas”. 2ª edição, Itu: Ottoni
Editora, 2000.
11.5.12
Monumentos Históricos de Itu/SP: Casa Imperial
Situada na Praça D. Pedro I, a "Casa Imperial" era o local onde hospedava-se a Família Imperial Brasileira nas ocasiões em que visitam a cidade de Itu/SP.
Projetada por Francisco Paula Souza (ver artigo nesse blog), a "Casa da Flor de Lis", como também é chamada por alguns historiadores, foi o prmeiro imóvel urbano tombado pelo CONDEPHAAT, em 1968, na cidade de Itu/SP.
Em 1884, quando a cidade recebeu a então Princesa Imperial, Isabel Cristina de Bragança e Bourbon, foram aqui alforriados 10 escravos.
Atualmente, sua proprietária , Dra Maria Lucia Caselli, mora no imóvel e é a principal responsável pela preservação do imóvel e suas histórias.
Agradecimento: Jose Antonio Barros Freire
4.5.12
A Vila de Itu/SP em 1765 - dados de um censo
Com
uma objetividade, comparada aos recenseamentos contemporâneos, o
historiador Francisco Nardy Filho, no texto denominado “Itu de
outras eras”, realiza minucioso levantamento da realidade ituana
durante o ano 1765.
De
acordo com seus dados, frutos de exaustiva pesquisa histórica, a
Vila de Itu/SP, contava com 3.988 habitantes, entre os quais 2.758
eram livres (1.361 homens e 1.397 mulheres); 1.230 escravos (640
homens e 590 mulheres).
Para
a lavagem das roupas, aproveitavam-se das águas dos dois córregos
locais e, para beber, serviam-se da fonte do Cercado dos
Franciscanos, além da bica existente na saída do caminho dos matos
(atualmente, nas proximidades do 2ºGAC AP).
O
posto de Capitão-Mor era ocupado por Salvador Jorge Velho e o de
Sargento-Mor, por Antônio Pacheco da Silva. Além disso, era vigário
da vara eclesiástica, o padre Felipe Machado de Campos e o cargo de
pároco era exercido por Francisco Xavier de Gusmão. A missa simples
custava uma pataca (moeda de prata de origem portuguesa, que
circularam no Brasil entre os anos de 1695 e 1834. A série era
composta por moedas de 20, 40, 80, 160, 320 e 640 réis, sendo a de
320 denominada pataca).
Missa
de corpo presente, 640 réis e a missa cantada 1$280 (mil duzentos e
oitenta réis). Encomenda e acompanhamento de defuntos custavam à
família do falecido, cerca de 640 réis (livres) e 320 réis
(escravos). Os batizados e casamentos eram voluntárias, ou seja,
cada padrinho e o noivo davam o que fosse conveniente.
A
Câmara de Itu/SP possuía a seguinte composição: Francisco de
Almeida Lara (Juiz Presidente); Manuel de Brito e Morais, Antônio
Leme da Silva e José de Arruda Penteado (Vereadores); Miguel Bicudo
de Brito (Procurador). Sua movimentação financeira girava em torno
de 154$760 em rendas (cento e cinquenta e quatro mil setecentos e
sessenta réis), com uma despesa de 130$363 (cento e trinta mil
trezentos e sessenta e três réis), obtendo em saldo, o valor de
24$397 (vinte e quatro mil trezentos e noventa e sete réis).
Essas
valiosas informações, extraídas do texto de Nardy Filho, são
consideradas uma das primeiras compilações de dados (se não a
primeira), relativas a organização social, política e religiosa de
Itu/SP, no século XVIII. Quiçá, nosso primeiro censo oficial antes
da invenção do IBGE.
GRAVURA:
“Vistas da Vila de Itu/SP”, Jean-Baptiste Debret (1768-1848)
FONTES:
NARDY FILHO, Francisco. “A Cidade de Itu: crônicas históricas”.
Itu: Ottoni Editora, vol. 05, 2000.
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