4.6.12

Patrimônio Histórico: restauração, conservação e reforma


Todas as pessoas que vivem em cidades históricas devem conhecer alguns conceitos e normas que regem a preservação de um Patrimônio Histórico. Em uma cidade como Itu, que possui elementos de todos os estilos arquitetônicos e o maior representante do Barroco Paulista, a Igreja Matriz Nossa Senhora da Candelária, este conhecimento se torna imprescindível.

Em meados do século XX, as normas de restauro que estavam vigentes desde o século XIX foram substituídas por normas internacionais e locais, discutidas em reuniões ocorridas em diversas partes do mundo, que se encontram reunidas nas cartas patrimoniais.

Tão importantes quanto estas normas são os conceitos que regem as intervenções feitas em edifícios históricos. O primeiro deles é o conceito de patrimônio histórico, acompanhado do motivo pelo qual deve ser preservado. Um edifício é considerado Patrimônio Histórico e, portanto, deve ser preservado, quando apresenta características estéticas ou históricas que devam ser transmitidas às gerações futuras, ou seja, características que não devem, jamais, ser destruídas.

Reconhecidos esses valores, deve-se cuidar de sua preservação, seguindo as normas e conceitos em vigor, para que não haja nenhum prejuízo à transmissão de tais características. Vale ressaltar que valor estético não é o que achamos bonito, mas se o edifício apresenta harmonia formal, de cores e proporcionalidade, onde nada pode ser retirado sem que se modifique o todo. Já o valor histórico traduz-se no edifício “contando” a história do período em que foi construído e dos anos que atravessou até chegar ao momento da intervenção.

É importante ressaltar que só se restaura uma OBRA, não se restaura uma IMAGEM QUE NÃO EXISTE MAIS. Sendo assim, mudanças consolidadas ao longo da história do edifício não devem ser apagadas para que se retorne a uma imagem antiga, pois são estas mudanças que contam a história dos períodos pelos quais o edifício passou.

Além disso, para se retornar a uma imagem antiga, temos que usar materiais novos, o que compromete o valor histórico e artístico da obra. Só é permitida a retirada de um material se isso trouxer à tona elementos originais. Caso contrário, o valor histórico é perdido. 

Sendo assim, RESTAURAR é preservar as características presentes no edifício no momento em que será objeto de intervenção. Materiais novos só devem ser usados para garantir a integridade estrutural ou completar partes faltantes, sempre com uma identificação do que foi feito, para que não seja confundido com o material original. Qualquer coisa fora isso é uma REFORMA e compromete o valor histórico e estético da obra.

Outro conceito importante é o de CONSERVAÇÃO, que nada mais é do que o tratamento da matéria com o objetivo de adiar sua deterioração, o que implica em preservar sua ambiência. É vedado construir, destruir ou modificar seus elementos alterando as relações de volumes e cores.
Analisando os conceitos, concluímos que podemos definir como estratégia de restauro tudo aquilo que não altere a forma, a imagem e a espacialidade da obra, garantindo, sempre, a manutenção dos aspectos que caracterizam sua passagem pelo tempo, ou seja, validam-na como documentação histórica da época em que foi criada e dos períodos que atravessou.

Ana Paula Quinteiro Capelli, Arquiteta.

Bibliografia

- Brande, Cesare, “Teoria da Restauração”, São Paulo, Ateliê Editorial, 2005.
- Cury, Isabelle (org.), “Cartas Patrimoniais”, Rio de Janeiro, IPHAN, 2004.

29.5.12

Monumentos Históricos de Itu/SP: Igreja N.Srª Candelária

Ícone do Barroco Paulista a Igreja Matriz, construída no século XVIII, é um dos monumentos mais imponentes de nossa cidade e orgulho dos ituanos.  


Agradecimentos: José Antonio Barros Freire

24.5.12

Festa do Divino: religiosidade e transgressão social


Em 1323, tomada por grande fervor religioso, D. Isabel, a rainha santa (1271-1336), casada com o rei de Portugal, D. Diniz, decidiu celebrar a festa do Espírito Santo coroando simbolicamente um imperador e dois reis. Após a cerimônia, o “império do Divino” saiu às ruas ao som de trombetas e acompanhado por uma multidão. Começava ali uma longa tradição de celebrações religiosas que resiste até hoje. 
 
No Brasil, as festividades do Divino Espírito Santo praticamente desapareceram das grandes cidades. Há alguns séculos, no entanto, eram realizadas nos maiores centros urbanos coloniais e causavam tamanho envolvimento da população que chegaram a preocupar as autoridades, como uma ameaça à ordem pública. 
 
Os primeiros registros dos festejos em terras brasileiras são do século XVIII. Sob o título "Livro das sortes que se tiraram na igreja Matriz da vila de Itu/SP para festejos do Divino Espírito Santo (1765-1799)", estão relatadas, ano após ano, todas as providências para o evento, como as contribuições em dinheiro para missa, o sermão e a música, e doações de alimentos (carne, trigo, farinha, arroz, azeite, ovos etc.).
 
Em 1765, por exemplo, foram arrecadadas em Itu/SP, cerca de 150 quilos de carne. O documento também lista os devotos escolhidos para compor os personagens da festa. Havia o imperador, o capitão da guarda, o pajem do estoque (provavelmente responsável pela guarda e distribuição de alimentos), o alferes da bandeira, entre outros. 

Um dos elementos que mais chamam a atenção nas festas é a ocorrência do “tempo alegre”, prática marcada pelas inversões simbólicas da ordem social, em que crianças ou adultos eram coroados como imperadores do Divino. Antes disso, havia a saída das folias, momento em que grupos de devotos percorriam as ruas em busca de esmolas para a festa portando bandeiras vermelhas com pombinhas bordadas em branco, símbolo do Espírito Santo. 
 
Os agentes da Coroa temiam que a brincadeira virasse realidade, que a festa lúdica acabasse inspirando revoltas efetivas. Era, portanto, preciso impedir o envolvimento desta população com os rituais de alteração simbólica da ordem e da hierarquia social, característicos daquelas festividades.
Após a emancipação política (1822), aumentou a tolerância das autoridades urbanas com os festejos. Porém, em nome dos ideais de “progresso e civilização”, os imperadores e suas pombas brancas do Divino tornaram-se figuras raras nas grandes cidades. 

 

22.5.12

Colégio Regente Feijó, 80 anos


No último 16 de Maio, a escola estadual Regente Feijó, comemorou seus 80 anos de existência e história.
Criado em 1932, pelo então prefeito da cidade, Dr. Joaquim Galvão da França Pacheco, o Ginásio Estadual supriu uma antiga carência local, visto que não havia ensino público secundário, ficando este a cargo dos dois únicos colégios particulares de Itu/SP: o Colégio N. Sra. do Patrocínio (feminino) e o Colégio S. Luiz (masculino). 
 
A primeira turma, segundo os registros do próprio colégio, era composta por 53 alunos e contava com professores da envergadura de José Leite Pinheiro, Pery Guarany Blackman, entre outros. A direção, naquela época, ficava a cargo do Dr. Oscavo de Paula e Silva. 


Além de estudantes da cidade de Itu/SP, o Ginásio também atendia alunos vindos de cidades vizinhas, tais como Salto/SP, Cabreúva/SP e Porto Feliz/SP.
Em 1944, já sob a direção do professor Antônio Berreta, com o apoio do então Deputado Estadual Dr. Novelli Júnior – que pleiteou a verba pública – o prédio, onde atualmente funciona a escola, foi construído e inaugurado 5 anos depois, visando assumir um papel fundamental na história do ensino público de Itu/SP e região.
Hoje, o passado do Colégio Estadual Regente Feijó, encontra-se imortalizado na memória dos habitantes da cidade e no próprio centro urbano de Itu/SP, onde, imponente, a tradicional escola permanece.

Foto: Fachada lateral do Colégio Estadual Regente Feijó. 

15.5.12

"A Lei e a Ordem" na vila de Itu/SP


Todas as leis e normas de condutas que regem uma sociedade, são filhas de seu próprio tempo, ou seja, buscam adequar-se às novas formas de organização social, aos novos costumes e práticas, ou até mesmo, normatizar comportamentos corriqueiros – e nem sempre adequados - dos cidadãos.
Dessa forma, justifica-se, em certa medida, algumas leis sancionadas pelos legisladores da Câmara Municipal de Itu/SP, ao longo do século XIX, visando coibir certas práticas consideradas imorais e não dignas da convivência social.

É o caso da sessão de 10 de Julho de 1830, na então vila de Itu, onde se aprovaram, segundo o historiador Francisco Nardy Filho, as seguintes posturas contra os insultantes:

Art. 1º – Todo aquele que injuriar publicamente, a qualquer pessoa com murros ou empurrões, terá a pena de 6$000 (seis mil réis) de multa e 3 dias de cadeia;
Art. 2º – Todo aquele que injuriar publicamente, com palavras insultantes a qualquer pessoa, terá a pena de 4 dias de cadeia e multa de 3$000 (três mil réis);
Art. 3º – Quando o condenado
não tiver condições de pagar a 
pena pecuniária estabelecida nesses artigos, o mesmo sofrerá um dia de prisão por cada mil réis.

Contra a “feitiçaria” (como eram chamadas as práticas religiosas dos africanos), considerada ofensiva diante dos preceitos católicos, a sessão de 11 de Abril de 1855, decretou a seguinte postura:

“O escravo que for encontrado comerciando ou tendo em seu poder qualquer objeto vulgarmente chamado de Feitiçaria, quer mineral, quer vegetal, quer animal, será punido com 8 dias de prisão e pela reincidência, 30 dias.
Por sua vez, as pessoas livres compreendidas no artigo acima, pela 1ª vez, será punido com 15 dias de prisão e multa de 30$000 (trinta mil réis) e pela reincidência, em 30 dias de prisão e 60$000 (sessenta mil réis!!) de multa.

A embriaguez também foi alvo dos legisladores ituanos, que em sessão de 13 de Janeiro de 1862, aprovaram uma postura que impunha 8 dias de cadeia e multa de 20$000, a todo taverneiro que vendesse bebidas alcoólicas a ponto da pessoa se embriagar, além da condução do bêbado à cadeia, para no dia seguinte ser interrogada.

Fonte: NARDY FILHO, Francisco. “A Cidade de Itu: crônicas históricas”. 2ª edição, Itu: Ottoni Editora, 2000.

11.5.12

Monumentos Históricos de Itu/SP: Casa Imperial


Situada na Praça D. Pedro I, a "Casa Imperial" era o local onde hospedava-se a Família Imperial Brasileira nas ocasiões em que visitam a cidade de Itu/SP.
Projetada por Francisco Paula Souza (ver artigo nesse blog), a "Casa da Flor de Lis", como também é chamada por alguns historiadores, foi o prmeiro imóvel urbano tombado pelo CONDEPHAAT, em 1968, na cidade de Itu/SP.
Em 1884, quando a cidade recebeu a então Princesa Imperial, Isabel Cristina de Bragança e Bourbon, foram aqui alforriados 10 escravos.

Atualmente, sua proprietária , Dra Maria Lucia Caselli, mora no imóvel e é a principal responsável pela preservação do imóvel e suas histórias.


Agradecimento: Jose Antonio Barros Freire
 

4.5.12

A Vila de Itu/SP em 1765 - dados de um censo


Com uma objetividade, comparada aos recenseamentos contemporâneos, o historiador Francisco Nardy Filho, no texto denominado “Itu de outras eras”, realiza minucioso levantamento da realidade ituana durante o ano 1765. 
 
De acordo com seus dados, frutos de exaustiva pesquisa histórica, a Vila de Itu/SP, contava com 3.988 habitantes, entre os quais 2.758 eram livres (1.361 homens e 1.397 mulheres); 1.230 escravos (640 homens e 590 mulheres). 
 
Para a lavagem das roupas, aproveitavam-se das águas dos dois córregos locais e, para beber, serviam-se da fonte do Cercado dos Franciscanos, além da bica existente na saída do caminho dos matos (atualmente, nas proximidades do 2ºGAC AP).

O posto de Capitão-Mor era ocupado por Salvador Jorge Velho e o de Sargento-Mor, por Antônio Pacheco da Silva. Além disso, era vigário da vara eclesiástica, o padre Felipe Machado de Campos e o cargo de pároco era exercido por Francisco Xavier de Gusmão. A missa simples custava uma pataca (moeda de prata de origem portuguesa, que circularam no Brasil entre os anos de 1695 e 1834. A série era composta por moedas de 20, 40, 80, 160, 320 e 640 réis, sendo a de 320 denominada pataca).

Missa de corpo presente, 640 réis e a missa cantada 1$280 (mil duzentos e oitenta réis). Encomenda e acompanhamento de defuntos custavam à família do falecido, cerca de 640 réis (livres) e 320 réis (escravos). Os batizados e casamentos eram voluntárias, ou seja, cada padrinho e o noivo davam o que fosse conveniente.

A Câmara de Itu/SP possuía a seguinte composição: Francisco de Almeida Lara (Juiz Presidente); Manuel de Brito e Morais, Antônio Leme da Silva e José de Arruda Penteado (Vereadores); Miguel Bicudo de Brito (Procurador). Sua movimentação financeira girava em torno de 154$760 em rendas (cento e cinquenta e quatro mil setecentos e sessenta réis), com uma despesa de 130$363 (cento e trinta mil trezentos e sessenta e três réis), obtendo em saldo, o valor de 24$397 (vinte e quatro mil trezentos e noventa e sete réis).

Essas valiosas informações, extraídas do texto de Nardy Filho, são consideradas uma das primeiras compilações de dados (se não a primeira), relativas a organização social, política e religiosa de Itu/SP, no século XVIII. Quiçá, nosso primeiro censo oficial antes da invenção do IBGE.


GRAVURA: “Vistas da Vila de Itu/SP”, Jean-Baptiste Debret (1768-1848)
FONTES: NARDY FILHO, Francisco. “A Cidade de Itu: crônicas históricas”. Itu: Ottoni Editora, vol. 05, 2000.
             Wikipedia.